Paralelamente ao aumento da participação de outras matérias-primas na produção do biodiesel, o gradual aumento da substituição de diesel por outros tipos de biocombustíveis de fontes renováveis é apontado como um fator importante para aumento da capacidade de produção e atendimento ao mercado.
Neste cenário, o chamado diesel verde obtido a partir do hidrotratamento de óleo vegetal (HVO, na sigla em inglês) desponta como a principal opção nesta corrida tecnológica.
“A Ubrabio já vem participando ativamente das discussões com a ANP que está debruçada na estruturação do diesel verde e seu uso combinado com o biodiesel. Esperamos já para março que a ANP coloque em consulta pública essa regulamentação”, explica Donizete Tokarski, superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).
A nova resolução para especificação do HVO começou a ser elaborada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em agosto de 2019. A agência entende que, com o RenovaBio, há uma tendência de entrada de novos biocombustíveis matriz energética brasileira.
Tokarski aposta na utilização do HVO para formar uma mistura de três combustíveis, com diesel de petróleo e biodiesel convencional. O crescimento do uso dessa mistura ternária pode ser potencializada pelo RenovaBio, segundo ele.
“A ideia é que o biodiesel seja usado sempre em forma de misturas, seja com o diesel fóssil ou com o diesel verde. Defendemos essa evolução gradual da mistura e a inserção do diesel verde na matriz de combustíveis, para garantir cada vez mais sustentabilidade”, explica.
Atualmente, os HVOs representam o terceiro maior biocombustível em volume produzido no mundo e sua produção está crescendo a uma taxa mais rápida do que as observadas nas indústrias de etanol e do biodiesel convencional (tecnicamente classificados como éster).
De acordo com a Empresa de Pequisa Energética (EPE), entre 2011 e 2018, a produção de éster cresceu 1,7% ao ano (a.a.) no mercado europeu, enquanto o HVO avançou a um ritmo de 37,1% a.a. O Brasil ainda não possui plantas para a produção do diesel verde.
Em uma nota técnica publicada esta semana, a EPE aborda oportunidades para a inserção do HVO no mercado nacional e indica que poderia ser uma solução para a instabilidade da mistura de biodiesel e diesel, ajudando a evitar a formação de depósitos em filtros e injetores de veículos pesados.
A discussão ganha força com a elevação do teor de biodiesel para 15% (B15), já programada para ocorrer até 2023.
“O uso do diesel verde, HVO, poderia contribuir para a melhoria da estabilidade da mistura que compõe o diesel B. Este biocombustível pode ser utilizado em motores diesel da frota atual sem quaisquer modificações, assim como em motores a serem comercializados a partir de 2023”, explicam os especialistas da EPE.
O diesel verde também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa em cerca de 50%, em relação ao diesel fóssil, podendo atingir até 90%, segundo os produtores.
Informações adaptadas da nota técnica Combustíveis renováveis para uso em motores do ciclo Diesel, publicada em março de 2020, pela EPE.
Em regra, biodiesel é todo combustível derivado de biomassa renovável, como a soja. O diesel verde é, portanto, um tipo de biodiesel, mas obtido a a partir de outros processos de fabricação, como o hidrotratamento de óleo vegetal, o HVO.
Explica a EPE: “diesel verde é um combustível renovável, formado por uma mistura de hidrocarbonetos com composição química semelhante à do combustível fóssil” ou drop in, isto é, são equivalentes aos combustíveis de petróleo.
Já o que é comumente chamado de biodiesel – esse que vai na mistura obrigatório –, são os ésteres metílicos. Para manter a convenção, neste texto, são chamados de biodiesel.
O diesel verde pode ser obtido por diferentes processos. São eles: